TUGAZOMBI

cadáver semi-frio com cereja na terceira narina

sábado, abril 29, 2006

DENTE POR DENTE

Outros antes de nós tentaram o mesmo esforço: dente por dente: não, nunca olhar de soslaio e manter a cabeça escarlate, o vómito nos pulsos por cada noite roubada; nem um minuto para a glória da pele. Despertar de lado: olho por olho: conservar a família em respeito, a esperança à distância de todas as fomes, o corno de cada dia nos intestinos. Aos dezoito anos, aos vinte e oito, a vida posta à prova da raiva e do amor, os olhos postos à prova do nojo. Entrar de costas no festival das letras, abrir passagem a golpes de fígado para a saída do escarro. Se não temos saúde bastante sejamos pelo menos doentes exemplares.
Fora do meu reino toda a pobreza, toda a ascese que gane aos artelhos dos que rangem os dentes; no meu reino apenas palavras provisórias, ódio breve e escarlate. Nem um gesto de paciência: o sonho ao nível de todos os perigos. Pelo meu relógio são horas de matar, de chamar o amor para a mesa dos sanguinários.
Dente por dente: a boca no coração do sangue: escolhera tempo a nossa morte e amá-Ia.
António José Forte
in Uma Faca nos Dentes

3 Comments:

Blogger martim de gouveia e sousa said...

saborosa "revolta" de um forte. abraços.

12:33 da manhã  
Blogger isabel mendes ferreira said...

um estalo. uma faca.


-------------------uma ponte para os dias.


amei!

beijos. sempre aqui.

11:37 da manhã  
Blogger isabel mendes ferreira said...

bom dia. coração de maio. beijo.te.

9:31 da manhã  

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