TUGAZOMBI

cadáver semi-frio com cereja na terceira narina

sábado, setembro 02, 2006

James Ensor (1911)






















humanidade – o passeio
por tantas asneiras
cheira sempre a sangue
em todas as palavras
fora e dentro do corpo
e na valeta

humanidade – duas pernas ao lado
um lado nunca cicatrizado
para neste branco lugar
olhar de longe um gato

cresce gato preto
pelos teus olhos de pantera
que eu me fico a tocar o tórax
a ponto de o julgar fruta
e justificar ar em falta
com arranhada tosse
grisalho e lento fosse o líquen
enrodilhado no coração

humanidade – pintar o pão
para morrer espumando tinta
jamais desabrochar noutros ouvidos
ouvir antes quebrarem-se pétalas
ou vidros

humanidade – repensá-la
como quem se maquilha
há sempre guerra e tudo é mato
– morrer e oferecer à morte
um queijo azul muito velho

2 Comments:

Blogger martim de gouveia e sousa said...

belo apontamento poeticoplástico com um brutal e esmaecido queijo azul! admirável acto! abraço.

6:44 da tarde  
Blogger alice said...

querido porfírio,

é realmente única a tua forma de expressão, mas depois do comentário eloquente do martim, nada me resta acrescentar a não ser um grande beijinho

obrigada por existires,

alice

2:02 da tarde  

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