TUGAZOMBI

cadáver semi-frio com cereja na terceira narina

sexta-feira, setembro 29, 2006

e o tuga faz um ano!

António Maria Lisboa (1949)

domingo, setembro 24, 2006

Joan Miró (1917)






















ignição: um carro rumo às barbas do céu
sufocado pelo arco-íris que um aceno
subscreveu - cinto o é com tapetes diurnos
a suplantar escadas e ele bem apertado
extravasando cor em bolhas queimadas

o condutor sujeito à cruz enevoada
de curva próxima a amolecer-lhe o peito
e rasga ele a estrada pleno de apetite
atraído pelo pó que as nuvens mascam
a convite da mulher sorridente

um pé-de-feijão arrastando borda fora
o carro gripa e não, ele não se chama joão

sábado, setembro 16, 2006

Tríptico Eugénio Granell (1950-76-86)


antes bem: uma última parcela de escuridão vertida
pela porta a transumar-se em continente
bem que respiro num sobrevoo
do grito a refazer
dúbio semblante do escultor que o perdeu

antes do carimbar d'ouvido me vem
esse pétreo interesse por um
olho-búzio trazido pelo bruxo das boas-noites
explica-me agulhas num amarelo vibrante
e desculpa pesadelos mas

as pálpebras são corpulentas
pesadas cosem atalhos
nomeiam-me náufrago bolorento
com livre trespasse do âmnio
e assim reentro

sexta-feira, setembro 08, 2006

Barnett Newman (1946)



















uma colmeia gorda por candeeiro
estirando opacos seios gorgolejantes
do capim crescido nos nós dos dedos

hei-de acender favos líquidos quando
o cavalo de néon se quebrar no
entroncamento da frase a mim entupida

recém-chegado da tigela feia às voltas com

estranha alcateia de alcachofras cor-de-rosa
a segredarem-me morse por mil capas aos beiços

que redondos e curvos os seios enchem
de mel os favos e estes adoçam o leite
pela paixão em ângulo bem debaixo da lua

sábado, setembro 02, 2006

James Ensor (1911)






















humanidade – o passeio
por tantas asneiras
cheira sempre a sangue
em todas as palavras
fora e dentro do corpo
e na valeta

humanidade – duas pernas ao lado
um lado nunca cicatrizado
para neste branco lugar
olhar de longe um gato

cresce gato preto
pelos teus olhos de pantera
que eu me fico a tocar o tórax
a ponto de o julgar fruta
e justificar ar em falta
com arranhada tosse
grisalho e lento fosse o líquen
enrodilhado no coração

humanidade – pintar o pão
para morrer espumando tinta
jamais desabrochar noutros ouvidos
ouvir antes quebrarem-se pétalas
ou vidros

humanidade – repensá-la
como quem se maquilha
há sempre guerra e tudo é mato
– morrer e oferecer à morte
um queijo azul muito velho