TUGAZOMBI

cadáver semi-frio com cereja na terceira narina

quarta-feira, março 29, 2006

Fazes-me falta

O silêncio chegou
E espalhou miséria às portas da morte
Assustou os espíritos
E evaporou as conversas de espuma
*
Trazia na trela um cão pequeno
Que latia arrogâncias
E havia fome
No focinho da besta
*
Eu podia simplesmente
Falar da cinza e dos cornos
Ou iludir-te com a falta de luz nos ovários
Mas a espera
Requer vocábulos de natureza puta
*
Eu podia pagar-te
Para ires às mulheres da rua
Deixava a fera assentar o pêlo
E calava os hemisférios
*
Era bem mais fácil
Rogar-te pragas de marfim
Fazer de conta que a lua
Tirou umas férias amarelas
Ou inventar incertezas
No centro do equador
*
Mas ouço a febre descer à montanha
Num repique de sinos alegóricos
E espero durante a hora da missa
Perder-me no bosque para sempre
A. S.

terça-feira, março 28, 2006

Franz von Stuck (1900)

quinta-feira, março 23, 2006

20

abranda hesita pára: a caveira perfumada
ir no ir que alcança o chão e em frente
o vidro não perdoa paredes por transparência
ir à procura do til à demão da língua
esconder a couraça num galanteio de mentol
até ao mil se apedreja com rebuçados
quem surfa ondas do etanol desparasitado

que o amor vem dos bolsos aprendeu
a mais ter o poder de tocar e correr
o fecho éclair do peito às vezes movediço
outras pista de dança delas no corropio
a não esticar para não romper os bolsos
tornar-se invertebrado pregado aos mamilos
numa interrupção voluntária de lucidez


Porfírio Al Brandão
in episódios

quarta-feira, março 22, 2006

Albert Pinkham Ryder (1890)

terça-feira, março 21, 2006

19

tilinta o arco e a noite mera campânula
estrelas sobram atrás dos guindastes
sob o braço polar murcham lábios
como sujas palavras de sapatearem dentes

afio a agulha no pêndulo e costuro a casa
à febre estridente da última vinheta
alumiando ressonância indomável
tecto vulcânico à velocidade dum fósforo

e quando cintilam palpites a pulso
entrevejo-me inteiro redobrado
abrindo um bilhar de amoras
Porfírio Al Brandão
in episódios

domingo, março 19, 2006

Robert Motherwell (1943)

sexta-feira, março 17, 2006

18

químico sol a tempo d'arquear o caule
erguido a nós quebrado em dois
um beijo no orvalho crescente
entre narizes que a luz adensa e inebria
p'la estéril doçura a trilhar no dorso

ouves eu dentro a consertar raízes
ampliando a vegetação
colhendo frutos sonoros numa nave d'âmbar
engordando o caule com barriga televisiva

renasceremos mudos no tráfico de sementes

Porfírio Al Brandão
in episódios

quinta-feira, março 16, 2006

"Tal, dentro do meu peito, a maré-viva
Do Desejo, do Sonho, da Saudade,
Como um pélago em fogo tumultua."
Anrique Paço D'Arcos
.
Theodoros Stamos (1949)

terça-feira, março 14, 2006

17

que dizer da folia dum aguilhão aguçado
se me doem colmeias no pescoço?

antes vê-lo executar viúvas de cera
com a fome de muitos lobos
um sem número de halos radiais
duma fria sensaboria tentacular
tê-lo mesmo como condão nidificador
coberto de plumas pairando sobre
velhos livros acossados pelo pó
manejá-lo aquecido no perímetro da voz
estimada catapulta contra o vasilhame
venerá-lo mastreá-lo aguçá-lo

talvez me desunhe à bica da flama
ou crave o aguilhão no céu da boca

Porfírio Al Brandão
in episódios

sexta-feira, março 10, 2006

"Da arte de medir o tempo" [M. Cesariny]

Theodoros Stamos
(1953)

segunda-feira, março 06, 2006

Arshile Gorky (1932)

domingo, março 05, 2006

Francine Fradet

quinta-feira, março 02, 2006

16

se casco o pericarpo ao som
racho a pele em invasão dissecante

penso se li na lagoa espiga
o remoinho dos trompetes
a rodarem dedos suados
digo respigo aliás perdido no se
sopram tempo como miam
metal derretido e eu embalado
a doar órgãos ao vácuo feminino

então ver-se luz é regar enxertos
Porfírio Al Brandão
in episódios


... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... shh!

Graham Sutherland (1940)