O silêncio chegou
E espalhou miséria às portas da morte
Assustou os espíritos
E evaporou as conversas de espuma
*
Trazia na trela um cão pequeno
Que latia arrogâncias
E havia fome
No focinho da besta
*
Eu podia simplesmente
Falar da cinza e dos cornos
Ou iludir-te com a falta de luz nos ovários
Mas a espera
Requer vocábulos de natureza puta
*
Eu podia pagar-te
Para ires às mulheres da rua
Deixava a fera assentar o pêlo
E calava os hemisférios
*
Era bem mais fácil
Rogar-te pragas de marfim
Fazer de conta que a lua
Tirou umas férias amarelas
Ou inventar incertezas
No centro do equador
*
Mas ouço a febre descer à montanha
Num repique de sinos alegóricos
E espero durante a hora da missa
Perder-me no bosque para sempre