TUGAZOMBI

cadáver semi-frio com cereja na terceira narina

sábado, abril 29, 2006

DENTE POR DENTE

Outros antes de nós tentaram o mesmo esforço: dente por dente: não, nunca olhar de soslaio e manter a cabeça escarlate, o vómito nos pulsos por cada noite roubada; nem um minuto para a glória da pele. Despertar de lado: olho por olho: conservar a família em respeito, a esperança à distância de todas as fomes, o corno de cada dia nos intestinos. Aos dezoito anos, aos vinte e oito, a vida posta à prova da raiva e do amor, os olhos postos à prova do nojo. Entrar de costas no festival das letras, abrir passagem a golpes de fígado para a saída do escarro. Se não temos saúde bastante sejamos pelo menos doentes exemplares.
Fora do meu reino toda a pobreza, toda a ascese que gane aos artelhos dos que rangem os dentes; no meu reino apenas palavras provisórias, ódio breve e escarlate. Nem um gesto de paciência: o sonho ao nível de todos os perigos. Pelo meu relógio são horas de matar, de chamar o amor para a mesa dos sanguinários.
Dente por dente: a boca no coração do sangue: escolhera tempo a nossa morte e amá-Ia.
António José Forte
in Uma Faca nos Dentes

quinta-feira, abril 27, 2006

Lee Krasner (1965)

quarta-feira, abril 26, 2006

24

aí. só: ela no wc
por medicamentos no coldre me engane
com a capa onde prega
fivelas cromáticas da descabelada noite
e eu me dobre fintando-lhe o trote
donos dum chão a florir côncavo
abraçados para bocejar trevos
aos azulejos transpirados
junto aos alicerces das louças donde
face contra face
sóbrio borbotar da copa
nos irá acordar
Porfírio Al Brandão
in episódios

terça-feira, abril 25, 2006

Mário Cesariny (1974)

domingo, abril 23, 2006

23

muito rocha apetrechada de amar folhas
decalques sim: feijões proeminentes
por quem me ata cotilédones dependurado
muito qualquer coisa última num toque
de lianas se escorre um milímetro de arrozal
sobram amidos na confusão das bocas
muito papoila andante de malas feitas
um dia luzindo morte à escaravelho
cedo comparando mordeduras de alface
muito trinado compulsivo a abrir
corolas ao quadro estriado sobre retinas
cansa-me a guerrilha vegetal no pulso
muito tesouras dançarinas numa paleta
e amputam sexo à tinta chorando óleo
Porfírio Al Brandão
in episódios

sexta-feira, abril 21, 2006

"estou vivo e escrevo sol" [A. R. Rosa]

Isabel Magalhães (1998)

quarta-feira, abril 12, 2006

ALÍVIO DO CORAÇÃO

foi então que as árvores respiraram
sustentando a queda dos astros
haviam pernas a pisar os ramos
indiferentes à dança das trevas
haviam faróis a bailar
por entre as sombras rasas
e cabelos humanos nos troncos da inveja
*
como explicar o desprezo do espaço?
entender o terrorismo das feras diante dos teus braços?
perceber a ignorância dos patos a debicar cristal?
compreender a estância de zelo que a água empata?
decifrar a linguagem cega dos teus olhos parvos?
definir nas plantas a génese do teu abraço?

domingo, abril 09, 2006

marulham capas. o azul vive respirando.

Rosário (1997)

quinta-feira, abril 06, 2006

22

o escuro. inseguro ventila cartilagens
irós já não lhe mordem. rói unhas
noite-azia. horário fracturado
espreita o guarda-roupa de lucífer. e assobia
agora verme. tremem-lhe anéis intestinais
de abraçar o frio espera recompensa. cubos
jogo-de-pés. sentidos em borrão na face
pânico diluído por mirones. um pano
digere clones. ribalta metamórfica
em sintonia com os faróis. iró-de-prumo
conta 11. entra hidráulico no autocarro
Porfírio Al Brandão
in episódios

quarta-feira, abril 05, 2006

"Save our city. Save our city." [J. Morrison]

Gershon Iskowitz (1952)

segunda-feira, abril 03, 2006

21

rasgar garagem num sabugo
por ouvir nervoso meia dúzia de pinhas
simpaticamente prenhas
de chuverem hélices traz-me fricção
ó relâmpagos
caruma mágica nas mãos
arde amarga giesta quando
se esborracham olhos
errados na almofada
outrora cerejas frescas no topo
da plasticina

trampolim este sabugo fundo
algures dentro de mim a encorajar
janelas em fieitos de segredar à pele
daquele pequeno corpo
a arrancar membros às árvores
espadas depois
desembainhadas à claridade da manhã
vê-lo saltar dono e senhor de animais
bolindo nos micronichos dum oásis mudo
e o sol aprisionado em volta
pela cortina de pinheiros
Porfírio Al Brandão
in episódios

domingo, abril 02, 2006

Lyonel Feininger (1920)