TUGAZOMBI
cadáver semi-frio com cereja na terceira narina
quinta-feira, dezembro 29, 2005
quarta-feira, dezembro 28, 2005
2
ele vê-se a decifrar o arrojo sanguíneo – pensar
emergência do vermelho como
turbulência cerebral por fantasma estéril
e ele fala aos cães gemendo com um
em si adentro feroz cão negro
a esses que não teme fala de silêncio roedor
brusco inicia um retiro discursivo
pinga solidão intuitiva
verte violência muda
ginga entre balaústres do passado
aponta à esfera ladrares compulsivos
desce falando aos cães que o temem
gemendo sempre fugindo
do cão negro ainda em si dentro
emergência do vermelho como
turbulência cerebral por fantasma estéril
e ele fala aos cães gemendo com um
em si adentro feroz cão negro
a esses que não teme fala de silêncio roedor
brusco inicia um retiro discursivo
pinga solidão intuitiva
verte violência muda
ginga entre balaústres do passado
aponta à esfera ladrares compulsivos
desce falando aos cães que o temem
gemendo sempre fugindo
do cão negro ainda em si dentro
Porfírio Al Brandão
in episódios
terça-feira, dezembro 27, 2005
segunda-feira, dezembro 26, 2005
uma casa chamada terra. e os pulmões respirando e comendo. as crianças também têm a boca negra e cegam. e são árduas e intactas. dentro de mim fulgura uma coroa fechada sobre a radiação das veias. as clareiras são os olhares de Deus e todas as minhas vísceras inocentes. que no fundo da noite há o aroma rosáceo e todo o Inferno da lenha e o pão entre as mãos. leva-me o coração como se fosse unânime de cantos.
Cristina Néry
inédito
domingo, dezembro 25, 2005
sábado, dezembro 24, 2005
1
de romper cadências da chuva – a testa
fulminante arabesco a sonhar demónios de saias
o útero da chaminé abre-se com
fugazes melodias de insectos despromovidos
em cada clareira
um mural
em cada haste em L vertendo
céus de demasia líquida
e instaura-se o centro da maternidade do cacto
de maternidade arbórea a luzir em qualquer sonho
sem que morra a ânsia de acordar
e na cabine homem e mulher olham a estrada
olham-na
engolem-na no limite visual
sob o alcatrão
flashes contínuos da contínua improbabilidade
da viagem
para lá do vidro algo espreita
acima das cabeças
alcatrão volátil
incolor acima das cabeças – a latência eminente
dum beijo de morte
homem e mulher impávidos
agrestes beijam esquinas
mantêm a expressão inicial do rosto
em acrílico tempo de menos a menos vivido
e largam cinzas do embrião sonhado
voam
queimam-se na névoa do alcatrão volátil
homem e mulher na cabine
olham
desovam tristeza
esparramada na chapa crua cruel inabitável
do alcatrão espasmado
– duas árvores secas
fulminante arabesco a sonhar demónios de saias
o útero da chaminé abre-se com
fugazes melodias de insectos despromovidos
em cada clareira
um mural
em cada haste em L vertendo
céus de demasia líquida
e instaura-se o centro da maternidade do cacto
de maternidade arbórea a luzir em qualquer sonho
sem que morra a ânsia de acordar
e na cabine homem e mulher olham a estrada
olham-na
engolem-na no limite visual
sob o alcatrão
flashes contínuos da contínua improbabilidade
da viagem
para lá do vidro algo espreita
acima das cabeças
alcatrão volátil
incolor acima das cabeças – a latência eminente
dum beijo de morte
homem e mulher impávidos
agrestes beijam esquinas
mantêm a expressão inicial do rosto
em acrílico tempo de menos a menos vivido
e largam cinzas do embrião sonhado
voam
queimam-se na névoa do alcatrão volátil
homem e mulher na cabine
olham
desovam tristeza
esparramada na chapa crua cruel inabitável
do alcatrão espasmado
– duas árvores secas
Porfírio Al Brandão
in episódios
quarta-feira, dezembro 21, 2005
terça-feira, dezembro 20, 2005
domingo, dezembro 18, 2005
PARASITA MUSICANTE
pé ante pé espreito
o caruncho tropeçando nos filamentos nervosos
da guitarra;
e ela declama a sua narrativa – eu sem mim, imerso
no tráfego de sons
escalando a palavra escarpada pela pronúncia
avisto além o muro da gordura lexical
sigo o caruncho até à toca – junta-se aos seus.
boquiaberto com a desova da laringe matriarca,
foco as cabeças que curiosas
afloram às janelas da flauta a desatracar
rumo à fábula
o caruncho tropeçando nos filamentos nervosos
da guitarra;
e ela declama a sua narrativa – eu sem mim, imerso
no tráfego de sons
escalando a palavra escarpada pela pronúncia
avisto além o muro da gordura lexical
sigo o caruncho até à toca – junta-se aos seus.
boquiaberto com a desova da laringe matriarca,
foco as cabeças que curiosas
afloram às janelas da flauta a desatracar
rumo à fábula
Porfírio Al Brandão
in Iconocaptor
pré-publicação
sábado, dezembro 17, 2005
sexta-feira, dezembro 16, 2005
quinta-feira, dezembro 15, 2005
quarta-feira, dezembro 14, 2005
de vê-las refaço-as/mãos invaginadas na/paisagem peristáltica/ramificam-se possessivas/machucam vozes
segunda-feira, dezembro 12, 2005
domingo, dezembro 11, 2005
REWIND
de ver a privação
na pele amanhecida
de ver o pecado
mal embrulhado
de ver a estonteante
nudez apetecida
dos corpos
dentro do cérebro
– cama húmida
o dever
das mãos hábeis
desdenhosas por
irromper o véu
– manjar de embaraços
de o ver
verde
o mar, ela
elo, amar
o dever
de rever
na pele amanhecida
de ver o pecado
mal embrulhado
de ver a estonteante
nudez apetecida
dos corpos
dentro do cérebro
– cama húmida
o dever
das mãos hábeis
desdenhosas por
irromper o véu
– manjar de embaraços
de o ver
verde
o mar, ela
elo, amar
o dever
de rever
Porfírio Al Brandão
in Iconocaptor
pré-publicação
quinta-feira, dezembro 08, 2005
terça-feira, dezembro 06, 2005
MEMBRANA
no último sábado, decidi colher bagos de tinta mágica.
atravessei a estrada como fronteira
rompia assim a película do breve perjúrio gelatinoso.
mais do que a dúbia impressão,
estranhei a hiperactividade dos pseudosentidos
– faiscaram ilhas nos nenúfares coralíferos
dos lábios
tarde soalheira com os dedos dos pés convertidos
em tesouras, desbravando ervas e arbustos;
palmilhando o teatro ecossistémico distingui
minúsculos seres corcundas,
guardiães à porta dos nós da árvore milenar
onde alojadas descansam as deusas ciganas
doutro tempo
servi chá de hortelã apimentada aos anões órfãos
da floresta.
deitei-os em suas camas – magas flores amarelas
da carqueja – despedi-me
e iniciei o regresso…
para além da película vislumbrei a transmutada égua
nos pastos de alcatrão
atravessei a estrada como fronteira
rompia assim a película do breve perjúrio gelatinoso.
mais do que a dúbia impressão,
estranhei a hiperactividade dos pseudosentidos
– faiscaram ilhas nos nenúfares coralíferos
dos lábios
tarde soalheira com os dedos dos pés convertidos
em tesouras, desbravando ervas e arbustos;
palmilhando o teatro ecossistémico distingui
minúsculos seres corcundas,
guardiães à porta dos nós da árvore milenar
onde alojadas descansam as deusas ciganas
doutro tempo
servi chá de hortelã apimentada aos anões órfãos
da floresta.
deitei-os em suas camas – magas flores amarelas
da carqueja – despedi-me
e iniciei o regresso…
para além da película vislumbrei a transmutada égua
nos pastos de alcatrão
Porfírio Al Brandão
in iconocaptor
pré-publicação
segunda-feira, dezembro 05, 2005
domingo, dezembro 04, 2005
II
O génio dum pintor
É dar as cousas como Deus as fez
E como Deus, sonhando, as concebeu,
Bem antes de as criar. É dar o sol
E a sombra original que lhe embrandece
O ímpeto doirado a desfazer-se,
Em luminosa espuma, sobre o mundo.
É dar a um rosto humano a forma viva,
A claridade viva que ele trouxe
Do ventre maternal...
Esta anímica luz de simpatia
Que se exala, no ar, e vem de dentro
Dum coração a arder:
A nossa própria imagem condensando,
Através da aparência transitória,
A eterna aparição.
É dar as cousas como Deus as fez
E como Deus, sonhando, as concebeu,
Bem antes de as criar. É dar o sol
E a sombra original que lhe embrandece
O ímpeto doirado a desfazer-se,
Em luminosa espuma, sobre o mundo.
É dar a um rosto humano a forma viva,
A claridade viva que ele trouxe
Do ventre maternal...
Esta anímica luz de simpatia
Que se exala, no ar, e vem de dentro
Dum coração a arder:
A nossa própria imagem condensando,
Através da aparência transitória,
A eterna aparição.
Teixeira de Pascoaes
Cânticos (1925)
Poesia de Teixeira de Pascoaes
Antologia organizada por M C
Cânticos (1925)
Poesia de Teixeira de Pascoaes
Antologia organizada por M C
Assírio & Alvim
sábado, dezembro 03, 2005
sexta-feira, dezembro 02, 2005
ÍMAN
luto limpo e claro na planície onde sobeja o ouro vegetal
uma noiva foge tatuando a película de sol
duma metáfora a sonhar árvores
a cada passo gota a gota lhe sobra o galanteio
e verte-se-lhe o sangue que o vestido morde
encarnando-o
áurea constelação de naifas ou
o rosto difundido no nojo do espaço
e os cabelos morrem sobre as folhas já mortas
no pensamento
uma noiva foge tatuando a película de sol
duma metáfora a sonhar árvores
a cada passo gota a gota lhe sobra o galanteio
e verte-se-lhe o sangue que o vestido morde
encarnando-o
áurea constelação de naifas ou
o rosto difundido no nojo do espaço
e os cabelos morrem sobre as folhas já mortas
no pensamento
Porfírio Al Brandão
in Iconocaptor
pré-publicação