TUGAZOMBI
cadáver semi-frio com cereja na terceira narina
terça-feira, janeiro 31, 2006
segunda-feira, janeiro 30, 2006
8
rumo à linha onde precipício me engulo
pulsam vértices orgânicos
de tossir picadas
e alinhá-las segundo a estirpe
figuro comida num ágil apodrecimento
orbitam mazelas que encaixam húmus
peso abominável ao mapa de grelhas
uma carcaça à terra se liberta
entro neste lento naufrágio
a pele derrete e amo degraus de cera
nos quais me ajoelho para rezar
à lâmina que as esponjas limpam
pulsam vértices orgânicos
de tossir picadas
e alinhá-las segundo a estirpe
figuro comida num ágil apodrecimento
orbitam mazelas que encaixam húmus
peso abominável ao mapa de grelhas
uma carcaça à terra se liberta
entro neste lento naufrágio
a pele derrete e amo degraus de cera
nos quais me ajoelho para rezar
à lâmina que as esponjas limpam
Porfírio Al Brandão
in episódios
quarta-feira, janeiro 25, 2006
terça-feira, janeiro 24, 2006
O Poema (I)
Esclarecendo que o poema
é um duelo agudíssimo
quero eu dizer um dedo
agudíssimo claro
apontado ao coração do homem
falo
com uma agulha de sangue
a coser-me todo o corpo
à garganta
e a esta terra imóvel
onde já a minha sombra
é um traço de alarme
é um duelo agudíssimo
quero eu dizer um dedo
agudíssimo claro
apontado ao coração do homem
falo
com uma agulha de sangue
a coser-me todo o corpo
à garganta
e a esta terra imóvel
onde já a minha sombra
é um traço de alarme
Luiza Neto Jorge
in Poesia
assírio & alvim 2001
domingo, janeiro 22, 2006
quinta-feira, janeiro 19, 2006
7
ouvi vivo no ar duros selos
e neles brindei em relevo
ao gume que talha venoso
os dados a ditarem
novo vestuário
segue-os atrás aquele nadar-de-orelhas
de rapina outro voar ainda ar denso
já outro corpo noutro agreste
enquanto entre eles cai uma porta
com dobradiças ósseas
vi e vim eu abrir vivo e sei: um pôs o pé
na sombra que se fez poça aspirante a espelho
onde outro mergulhará tintas expurgadas
a esquissos ambulantes em roda-morta
junto ao calvário
e neles brindei em relevo
ao gume que talha venoso
os dados a ditarem
novo vestuário
segue-os atrás aquele nadar-de-orelhas
de rapina outro voar ainda ar denso
já outro corpo noutro agreste
enquanto entre eles cai uma porta
com dobradiças ósseas
vi e vim eu abrir vivo e sei: um pôs o pé
na sombra que se fez poça aspirante a espelho
onde outro mergulhará tintas expurgadas
a esquissos ambulantes em roda-morta
junto ao calvário
Porfírio Al Brandão
in episódios
quarta-feira, janeiro 18, 2006
segunda-feira, janeiro 16, 2006
6
«dar água às grades»
mote corrente quando
se aprisiona uma nascente astral
de antedito pó
a tragar-se amargo ao redor do holograma
cambaleio mordiscando o púbis à nau do dia
descem panos curvos com nervos rubros
a alisarem o olho perfurante
qu'inda desenha a bigorna
d'ungir s'esmaga
e beijar esgota
qual vida s'esvai
s'estaca a boca?
«gradear as águas»
mote corrente quando
se aprisiona uma nascente astral
de antedito pó
a tragar-se amargo ao redor do holograma
cambaleio mordiscando o púbis à nau do dia
descem panos curvos com nervos rubros
a alisarem o olho perfurante
qu'inda desenha a bigorna
d'ungir s'esmaga
e beijar esgota
qual vida s'esvai
s'estaca a boca?
«gradear as águas»
Porfírio Al Brandão
in episódios
domingo, janeiro 15, 2006
sábado, janeiro 14, 2006
sexta-feira, janeiro 13, 2006
quarta-feira, janeiro 11, 2006
5
de beber o lençol julga-se morto
exposto num túmulo tenro
do alto à cegueira nega as pálpebras descidas
cume onde come bolor negro
debita suor abafando animais com as costas
cúpula do estábulo onde focinhos comentam
como se escavassem o sono colchão abaixo
o sonho é a gazela aos pinotes
no prado onde as flores sorriem decotes
exposto num túmulo tenro
do alto à cegueira nega as pálpebras descidas
cume onde come bolor negro
debita suor abafando animais com as costas
cúpula do estábulo onde focinhos comentam
como se escavassem o sono colchão abaixo
o sonho é a gazela aos pinotes
no prado onde as flores sorriem decotes
Porfírio Al Brandão
in episódios
domingo, janeiro 08, 2006
sexta-feira, janeiro 06, 2006
4
escrevo a cear-te os átomos por saudade curva
doem-me as mãos de procurar granadas mínimas
a língua viaja pelo
mármore azedo – amêndoa
… desejo-a nos dedos
ouço turbinas no arcabouço veloz
ao lamber mucosas
e leio fundo nos tendões o verbo frígido
a engrandecer esse coito salivante das canoas febris
sob o artifício nascente de casulos luminosos
refazer-me-te praia daquela tarde
garças garganteiam-te o umbigo eruptivo
onde se aninha o precipitado coágulo violáceo
das marés inconfessas
abre-me válvulas
reata-me pérolas forradas a carne
e pensar que o coração é uma noz
um pedaço de mar aberto
à boca da cama
flutuante se me soluça o corpo
ao colher sementes na rouquidão nocturna
localizar-te nesse instante
em que a maré alta se confunde com o pólen
roubado à infância
os peixes beijarão a guilhotina
e não morderás a culpa que me veste de mar
nem tresloucarás a sede dos olhos que trespassam
o coração do cardume
doem-me as mãos de procurar granadas mínimas
a língua viaja pelo
mármore azedo – amêndoa
… desejo-a nos dedos
ouço turbinas no arcabouço veloz
ao lamber mucosas
e leio fundo nos tendões o verbo frígido
a engrandecer esse coito salivante das canoas febris
sob o artifício nascente de casulos luminosos
refazer-me-te praia daquela tarde
garças garganteiam-te o umbigo eruptivo
onde se aninha o precipitado coágulo violáceo
das marés inconfessas
abre-me válvulas
reata-me pérolas forradas a carne
e pensar que o coração é uma noz
um pedaço de mar aberto
à boca da cama
flutuante se me soluça o corpo
ao colher sementes na rouquidão nocturna
localizar-te nesse instante
em que a maré alta se confunde com o pólen
roubado à infância
os peixes beijarão a guilhotina
e não morderás a culpa que me veste de mar
nem tresloucarás a sede dos olhos que trespassam
o coração do cardume
Porfírio Al Brandão
in episódios
quinta-feira, janeiro 05, 2006
quarta-feira, janeiro 04, 2006
PREDESTINADA (Judith Teixeira)
Sou amargura em recorte
numa sombra diluída...
Vivo tão perto da morte!
Ando tão longe da vida...
Quis vencer a minha sorte,
Mas fui eu que fui vencida!
Ando na vida sem norte,
Já nem sei da minha vida...
Eu sou a alma penada
de outra que foi desgraçada!
—A tara da desventura...
Sou o Castigo fatal
dum negro crime ancestral,
numa sombra diluída...
Vivo tão perto da morte!
Ando tão longe da vida...
Quis vencer a minha sorte,
Mas fui eu que fui vencida!
Ando na vida sem norte,
Já nem sei da minha vida...
Eu sou a alma penada
de outra que foi desgraçada!
—A tara da desventura...
Sou o Castigo fatal
dum negro crime ancestral,
em convulsões de loucura!
Novembro - Tarde Cinzenta
1922
Novembro - Tarde Cinzenta
1922
mas se apreciam Judith
aconselho-vos a visitar um blog
do meu kamarada e amigo Martim:
wwweuropa.blogspot.com
e já agora:
terça-feira, janeiro 03, 2006
segunda-feira, janeiro 02, 2006
3
é o vento que me convoca, é o vento que me provoca
e a cadeira balouça: o velho
estirado completo na sua demência obscura
no seu passar igual dos anos
com a maresia dum louco cérebro à solta
balouça digerindo música seu diminuendo
da única alegria bebendo fluidos
planam pássaros
dolorosos cansaços vistos ao espelho
todo o dia toda a noite
e durante o sono masca aquele grão de loucura
obstipado na glândula
que à tarde amena se subtrai
ele repica passos, envolve-os em geleia crispada
e há migalhas na mesa
e há cadeiras fixas na memória
desmaiadas no pensamento
e há a ardência indolor dos olhos
água que jamais ressuscitará
irá de novo lançar redes para embrulhar peixes
e embalá-los num sono de alcofa
nunca mais dirá o seu nome
nem acariciará a fotografia
e o álbum há muito que é uma sepultura
há muito que alberga apenas traça
na sua vida minúscula
com vivência alegre da sua minúscula memória
mas que vive
vive
mesmo que minúscula a sua alegria
o velho arderá na planície
e nunca mais se ouvirá nele o eco da montanha
que algum dia lhe haviam falado
e a cadeira balouça: o velho
estirado completo na sua demência obscura
no seu passar igual dos anos
com a maresia dum louco cérebro à solta
balouça digerindo música seu diminuendo
da única alegria bebendo fluidos
planam pássaros
dolorosos cansaços vistos ao espelho
todo o dia toda a noite
e durante o sono masca aquele grão de loucura
obstipado na glândula
que à tarde amena se subtrai
ele repica passos, envolve-os em geleia crispada
e há migalhas na mesa
e há cadeiras fixas na memória
desmaiadas no pensamento
e há a ardência indolor dos olhos
água que jamais ressuscitará
irá de novo lançar redes para embrulhar peixes
e embalá-los num sono de alcofa
nunca mais dirá o seu nome
nem acariciará a fotografia
e o álbum há muito que é uma sepultura
há muito que alberga apenas traça
na sua vida minúscula
com vivência alegre da sua minúscula memória
mas que vive
vive
mesmo que minúscula a sua alegria
o velho arderá na planície
e nunca mais se ouvirá nele o eco da montanha
que algum dia lhe haviam falado
Porfírio Al Brandão
in episódios
domingo, janeiro 01, 2006
AMORES, OS MEUS
atiro-te um beijo joana dos ratos.
mónica dentes podres a vós lanço-vos uma
promessa de amor. sandra complexo
de mongol, a ti, minha querida,
um bouquet de jasmins. e tina
andróide apenas uma perna, para ti,
carícias na mama esquerda. a
vós todas, mais a fátima carcinoma pêlo na venta
a quem introduzo o dedo na vagina,
a todas vós,
feliz natal e excelente ano novo.
mónica dentes podres a vós lanço-vos uma
promessa de amor. sandra complexo
de mongol, a ti, minha querida,
um bouquet de jasmins. e tina
andróide apenas uma perna, para ti,
carícias na mama esquerda. a
vós todas, mais a fátima carcinoma pêlo na venta
a quem introduzo o dedo na vagina,
a todas vós,
feliz natal e excelente ano novo.
hélio T.
in textos da execração
angelus novus, 2005