TUGAZOMBI
cadáver semi-frio com cereja na terceira narina
quarta-feira, maio 31, 2006
terça-feira, maio 30, 2006
26
lembrar ânimo de sucção na cervical
e um arrepio leva a cor em frente
acorrem estilhaços junto à fava coronária
formigo enraivecido estranhando o balouço
que traz memórias dentadas a dois na pele
extensível a um quarto conservado pela saliva
numa súplica do capitel à vertebra fracturada
mas longínqua luz dura sustém a cabeça-de-leão
com tensões de explodir carruagens
num súbito big bang fraudulento
a mão assina a data no beiral cicatrizado
lambo-lhe o suor que entumesce os espinhos
há um turbilhão quente a envolver surdez
dum sangue descorado por força doente
à janela dói a grande superfície
e um arrepio leva a cor em frente
acorrem estilhaços junto à fava coronária
formigo enraivecido estranhando o balouço
que traz memórias dentadas a dois na pele
extensível a um quarto conservado pela saliva
numa súplica do capitel à vertebra fracturada
mas longínqua luz dura sustém a cabeça-de-leão
com tensões de explodir carruagens
num súbito big bang fraudulento
a mão assina a data no beiral cicatrizado
lambo-lhe o suor que entumesce os espinhos
há um turbilhão quente a envolver surdez
dum sangue descorado por força doente
à janela dói a grande superfície
Porfírio Al Brandão
in episódios
segunda-feira, maio 29, 2006
sexta-feira, maio 26, 2006
quando ali me sentava
os anzóis prendiam as sombras da tarde a ganir com o cio
se a água do rio ao menos vazasse a prata sem dor
ou os meus pés fossem canas de pescar sapatos
mas ali sentada diante do nada
era lume brando a cozer traições
e a agonia dos peixes na berma da água
era o fim dos teus olhos a acabar a tarde
se ao menos os barcos passassem de véspera pelas ilusões
ou as redes vazassem sonhos menos fáceis
mas ali sentada com a alma trocada
pescava o diabo e as tentações
ainda que eu cruzasse a solidão entre as pernas
o cio esganava o brilho da prata caído no chão
mesmo que os anzóis mordessem a margem
nunca a rota dos barcos me corrigia a alma
e ali sentada de pernas cruzadas
não tinha calçado nem canas de pesca para a solidão
os anzóis prendiam as sombras da tarde a ganir com o cio
se a água do rio ao menos vazasse a prata sem dor
ou os meus pés fossem canas de pescar sapatos
mas ali sentada diante do nada
era lume brando a cozer traições
e a agonia dos peixes na berma da água
era o fim dos teus olhos a acabar a tarde
se ao menos os barcos passassem de véspera pelas ilusões
ou as redes vazassem sonhos menos fáceis
mas ali sentada com a alma trocada
pescava o diabo e as tentações
ainda que eu cruzasse a solidão entre as pernas
o cio esganava o brilho da prata caído no chão
mesmo que os anzóis mordessem a margem
nunca a rota dos barcos me corrigia a alma
e ali sentada de pernas cruzadas
não tinha calçado nem canas de pesca para a solidão
Alice
quarta-feira, maio 24, 2006
terça-feira, maio 23, 2006
25
eu nos circuitos empapado com mangas
como se esperasse um esguicho para celebrar
o agonizante amarelo neste tapete binário
donde electrificado me sorteio com a pressa
de selar cáries e cálculos de enxofre
para rir-me como um tolo abraçado de bêbado
aos meus gigantescos rins e apontar-lhes ranho
olhando de soslaio a homeostasia de bonecos
com críticos órgãos amontoados nas lisas
cabeças unidas em cone quasi religioso
à procura do polímero-mor no foco ensandecido
dum palhaço a desejar melhoras espirrando laçarotes
como se esperasse um esguicho para celebrar
o agonizante amarelo neste tapete binário
donde electrificado me sorteio com a pressa
de selar cáries e cálculos de enxofre
para rir-me como um tolo abraçado de bêbado
aos meus gigantescos rins e apontar-lhes ranho
olhando de soslaio a homeostasia de bonecos
com críticos órgãos amontoados nas lisas
cabeças unidas em cone quasi religioso
à procura do polímero-mor no foco ensandecido
dum palhaço a desejar melhoras espirrando laçarotes
Porfírio Al Brandão
in episódios
sábado, maio 20, 2006
quinta-feira, maio 18, 2006
terça-feira, maio 16, 2006
segunda-feira, maio 15, 2006
EBRIEZ
dados mergulham na cerveja
paulatinos dedos engendram órbitas
o copo queima em todo o perímetro
e a boca do degredado símio incha atónita
regressando a casa o polvilhar de enxofre
as faces em metamorfose o clamor no peito
incendiado
a elasticidade dos corpos
em torno dum eixo naufragado
e térmites algozes escarafuncham a vítima
e depois na cama
roda gigante em movimento
desponta a viagem vertiginosa
à ilha das aves brancas
entre vómitos abrolhosos o subterfúgio da sede
delírio de polímeros extintos ao pequeno-almoço
paulatinos dedos engendram órbitas
o copo queima em todo o perímetro
e a boca do degredado símio incha atónita
regressando a casa o polvilhar de enxofre
as faces em metamorfose o clamor no peito
incendiado
a elasticidade dos corpos
em torno dum eixo naufragado
e térmites algozes escarafuncham a vítima
e depois na cama
roda gigante em movimento
desponta a viagem vertiginosa
à ilha das aves brancas
entre vómitos abrolhosos o subterfúgio da sede
delírio de polímeros extintos ao pequeno-almoço
Porfírio Al Brandão
in Ancoradouro
Universitária Editora 2002
sexta-feira, maio 12, 2006
quarta-feira, maio 10, 2006
ACOLÁ DO QUE AQUI MORRE
acolá – tanto se lhe deu como jamais lhe irá dar
é esta a glória subversiva dum jorro quente
paraíso minúsculo do albatroz construído peça a peça
com animalesca imaginação de risco a perpassar
o sonâmbulo pano que vai apagando arabescos
de pó e ícones fulcrais gravados a pólen de anjo
acolá – algures nas profundezas dum rio raso
despovoado pela concreta animalidade bocal
que aboca os peixes desamparados em frases ocas
sombras irreais a subsistirem de medusas loucas
acolá – nada se fez igual ao que se aparenta
e se desloca em perseguição pois é ignóbil
a razão que raia nos meatos por nós criados
acolá – creio que acolá para lá do onde
acolá do que aqui morre
é esta a glória subversiva dum jorro quente
paraíso minúsculo do albatroz construído peça a peça
com animalesca imaginação de risco a perpassar
o sonâmbulo pano que vai apagando arabescos
de pó e ícones fulcrais gravados a pólen de anjo
acolá – algures nas profundezas dum rio raso
despovoado pela concreta animalidade bocal
que aboca os peixes desamparados em frases ocas
sombras irreais a subsistirem de medusas loucas
acolá – nada se fez igual ao que se aparenta
e se desloca em perseguição pois é ignóbil
a razão que raia nos meatos por nós criados
acolá – creio que acolá para lá do onde
acolá do que aqui morre
Porfírio Al Brandão
in O Príncipe Nu
Palimage editores 2002
terça-feira, maio 09, 2006
domingo, maio 07, 2006
PRANTO PELO CORDÃO UMBILICAL
à minha mãe
a todas as mães
neutrões assumem o comando da matériacabeças vazias clamam o nihil
perdidas cabeças na pele
farrapo de células
os apelidos da infância humilham
aqueles que deram braçadas
no mar de saturno
facas estelares
atravessam os pulmões
que beberam o ar e a geografia abissal
a repetir uma e outra vez nos pesadelos
inicia-se a combustão
os átomos dançam em torno do fogo
entra e sai da câmara
o que és?
soletra «frio»
o sono longe e certa a faca do dia
sintoniza a cara de luz na avalanche mental
ouve o grito da imagem
esfaqueia a sombra do que se diz frágil
mas intocável
esfregam-se mãos na parede pintada
com o sangue dos vermes intermitentes
desenhos a lápis fino nos olhos apontados ao sol
a sujidade do mundo é vertiginosa
a beleza é subjugada pela raiva
ó mundo dos acidentes hormonais
bombardeado com motorizadas cadentes
vindas da cordilheira de meteoros
apartai de mim o jarro de porcelana que parti
e colei peça a peça com a cola dos lábios que
trinquei nas absurdas noites da paixão adolescente
¿como esquecer as roupas sujas
de lama e verdume de giestas?
o fim em cada luar
areia mastigada com desdém e antipatia egocêntrica
[o mundo selvagem]
cai a música
o açúcar da doença rapta o sorriso hipócrita
entre pensamentos planetários
os dedos já navalhas ferem as faces do rosto
mãe
a orquídea está cansada do orgulho
que lhe corre na seiva
mãe
expurga-me o veneno
a obsessão visionária é negritude discursiva
¿como esquecer o coração da viagem?
e se fosse possível prever
a órbita
das auréolas voadoras?
e se depositássemos
as veias
no antro estomacal do mundo?
e se largássemos
as mágoas
que causam anemia?
e se já não houvessem
os espelhos
da alegoria social?
e se prevalecesse a intercepção desmesurada
dos olhos onzeneiros
que sedentos esperam o desabamento do tecto?
e se a negra cor do pano
alimentada de medo
deixasse de ser a cor do sono comum?
mãe
vi Cassandra desolada
subindo a rua com a túnica rasgada
os pulsos rodando brancos
os dedos tacteando francos
o ar que já não respira
os olhos repetindo o poço de sangue que vira
o rosto esculpido pelo ódio
dedicado à besta que subiu ao pódio
– Cassandra arrasta seus pés
seguindo o trilho do sol pela última vez
mãe
vi Orestes procurando a víbora viperina
e nem Pílades lhe esgueira a sina
nem Ifigénia o reconhece agora
cada facada em sua mãe é hora
que passa recordando seu pai
com estima cega – o coração trai
o materno colo que de carne o adornou –
por Hermíone Orestes Pirro matou
e Cassandra soltou um sorriso maquiavélico
– Orestes carrega nas veias o amor bélico
o andarilho humanóide
festeja ensonado
a sumarenta denúncia
chove
e há quem se molhe por dentro
parafusos de cobre enferrujam na carne mole
do sentimento que veste os órgãos
suados de existência
chuva contrária
chove
e há quem arda por fora
mãe
o bicho-da-seda
encontra-se rodeado de agulhas
contorce-se de dores
quer sair e sairá
mãe
tenho dores por todo o corpo
monto o palco
forro o cenário com a pele
o mundo entra-me pelos poros
declaro único o lugar
[o cérebro da cidade dos homens]
único é o primeiríssimo lugar
– com todas as ossadas encaixadas –
no qual assisto à dança dos mártires do novo tempo
estar aqui
mergulhado no muco
lendo o vermelho da imagem
o sangue
sempre o sangue
digo sangue escorre sangue
e ele dentro
anima o corpo explodindo nas veias
o sangue
estar aqui
à espera que as vozes presas na minha cabeça
se soltem desobrigadas
para que possa escutar a mirabolante fábula
e desenhar os esquemas nas paredes amarelecidas
pelo líquido amniótico
dentro quente me sinto
as duas metades roçam-se com desejo
dentro possesso articulo os selos ósseos da memória
fora arde-me o umbigo
a musa esbofeteia o ar acima da cabeça
fora solta-se-me o cavalo de bronze
que amarga a língua presa ao meio
mãe
quero adormecer de novo no teu ventre
Porfírio Al Brandão
in Boca do Mundo
Universitária Editora 2004
quinta-feira, maio 04, 2006
quarta-feira, maio 03, 2006
O FIM
a tristeza é a cona da morte
tem a testa alta e a boca funda
aparta os lábios e suga-me em saliva podre
bloqueia-me as guelras com os pêlos púbicos
desata a cuspir-me insectos nos olhos
não consigo ver nada
ouço as paredes genitais a ranger
apertam-me os passos
segregam excremento
cheiram a merda
sinto-me mal, sabes?
estou triste por não morrer
tem a testa alta e a boca funda
aparta os lábios e suga-me em saliva podre
bloqueia-me as guelras com os pêlos púbicos
desata a cuspir-me insectos nos olhos
não consigo ver nada
ouço as paredes genitais a ranger
apertam-me os passos
segregam excremento
cheiram a merda
sinto-me mal, sabes?
estou triste por não morrer
A. S.