TUGAZOMBI
cadáver semi-frio com cereja na terceira narina
quarta-feira, novembro 30, 2005
terça-feira, novembro 29, 2005
relembro infância, grito FRÁGUAS!
segunda-feira, novembro 28, 2005
domingo, novembro 27, 2005
sexta-feira, novembro 25, 2005
ÁLIBI
saboreio a nula mordidela
esfregando nos membros azeite de trevos azulados
produzidos em estufa hipotérmica
simulacro da asmosfera
parábolas de halogéneos escorrendo aritmética;
decifro o fandango de línguas – à noite o cupido
trinca-as,
charada da imundice que é pecado
nu.
brinco ateado pelo vapor ígneo da água lenta
a erguer muralhas silentes, o CO2 assobiando
no labirinto das grutas profundas – nu
mergulho na salmoura de espuma
quinta-feira, novembro 24, 2005
quarta-feira, novembro 23, 2005
PROJECTO DE SUCESSÃO
Continuar aos saltos até ultrapassar a Lua
continuar deitado até se destruir a cama
permanecer de pé até a polícia vir
permanecer sentado até que o pai morra
Arrancar os cabelos e não morrer numa rua solitária
amar continuamente a posição vertical
e continuamente fazer ângulos rectos
Gritar da janela até que a vizinha ponha as mamas de fora
pôr-se nu em casa até a escultora dar o sexo
fazer gestos no café até espantar a clientela
pregar sustos nas esquinas até que uma velhinha caia
contar histórias obscenas uma noite em família
narrar um crime perfeito a um adolescente loiro
beber um copo de leite e misturar-lhe nitro-glicerina
deixar fumar um cigarro só até meio
Abrirem-se covas e esquecerem-se os dias
beber-se por um copo de oiro e sonharem-se Índias.
António Maria Lisboa
in poesia, assírio & alvim 1995
terça-feira, novembro 22, 2005
segunda-feira, novembro 21, 2005
DILÚCULO
crescem canas verdes no baldio dos olhos
pendem cápsulas nos lóbulos das orelhas – estratos vicejam
na gaguez matinal,
ousam recriar a mensagem fotoeléctrica do holofote
enquanto perturbado pastor
jejuam plantas
em contínuo coito assistido pela rara lascívia
de artrópodes bem-humorados
com o seu quê de obscenidade ardilosamente
explorada
pelo leque versátil de sobreluzidos apêndices
só e sonâmbulo,
estado de quem conhece a refractária pérola de lis;
no lugar do coração um caroço – é uma estátua
cujo bronze amadurece
domingo, novembro 20, 2005
sábado, novembro 19, 2005
hoje realiza-se um recital de poesia no Erato - café com livros (Viseu). 15h00. festival de musas desnudas.
sexta-feira, novembro 18, 2005
quinta-feira, novembro 17, 2005
MESA PARA UM
de tão avesso natural, amputo-lhes as pétalas e meço
a cova triangular do peito aborrecido – como tudo
se faz tão igual
sucumbem ao serem cozinhadas, povoam-nas cores
da ignomínia – as rosas destronadas no prato.
revelo-lhes a fúria metálica e estridente dos talheres, e
no alto da coluna humana a boca impacientemente
cromática, já fonte.
ao mastigá-las olho-as por dentro, avanço no corredor
da perversão; aí denoto o busto poliédrico de vivo
movimento, florindo para íntima navegação
na mesa oceânica, onde presas se entrecruzam
as ondas de pinho
melancólica nuvem de espuma – sobrevém-me
o dia cru
in Iconocaptor
pré-publicação
quarta-feira, novembro 16, 2005
terça-feira, novembro 15, 2005
domingo, novembro 13, 2005
sexta-feira, novembro 11, 2005
VISITA
quem entrará, navegando entre grades, na caverna
do deslumbramento?
quem por avalanche entrará no vitral montes acima?
montes de mim, pergunto – quem entrará no vitral
por avalanche, sem o mínimo sono labial?
brisa amena dentro de casa – irmã,
desfaz as arestas do pesadelo com o laser saudosista
escondido por entre as dobras deste céu.
quem soerguerá os barcos na maré solar, salvando-os
da tempestade? quem explicará sem derrame,
o pássaro de amor enforcado no arame?
arranquem-me o nome... descobri que num sorriso
de mulher
coelhos morrem, cobardes assassinam-se
entre si
por doçura doentia, sobre a palha estaladiça.
como render-me sem arma nos ombros da mulher
que morre com o assobio das almas por arder?
quem entrará por despejo rasgando os pulmões
desta página que bafejo?
por quem? com quem? em quem? cães
salivantes auscultam-me
a carne
palavras são / fragmentos / de noites sem desejo. / tormentas ocultadas / feridas / que os lábios ensanguentam.
in a escavação dos túmulos
pré-publicação 2005
quarta-feira, novembro 09, 2005
crê no alvoroço que lhe dá a fuga / adivinha pegadas / sozinha ali mesmo renasce / desfiando silvos por chutar / penteados aos arbustos
terça-feira, novembro 08, 2005
NECTURNO
e não quero anoitecido este sangue
ofício gritante este, o de descer a escura noite à procura
do sopro que dizimou esconderijos do mapa
com a cinza ácida do meu abandono aos astros
é com esta luz que eu observo um cavalo a atirar-se
da mais alta cascata
com o peito florindo de paixão
os olhos sonhando abertos, o rosto empedrado
as patas curvadas e o peito florindo na queda
florindo e esmagando-se contra as rochas
o último relincho é o pólen anoitecido
memória adentro – falso néctar a envenenar as palavras
na garganta
nunca desejei como agora beber na cauda dum cometa
estremeço libertando a gaivota que pousará ferida
nas tuas mãos… aonde o bico?
e o esterno é uma adaga de sal que fragiliza
a simples ideia de amar
ou um nariz de quartzo pingando néon
que ilumina a raiz das diminutas asas
Porfírio Al Brandão
in Iconocaptor
pré-publicação
segunda-feira, novembro 07, 2005
E AGORA?
se fosses flor serias orquídea assim tão branca de escamas e sal e
se fosses pedra ou chama serias ardósia ardente secreta luz secreto
tudo o que é pouco anguloso frio versátil rusga árvore pulmão abraço
que arranha
aranha nas minhas ancas mas
se fosses mais perto areal oásis casa música combustão ou apenas a
tua mão na minha
serias garganta língua mordaça e então só então serias a penumbra
afinal o único lugar
onde te dispo de metáforas e te beijo. no meio do deserto.
E agora?
Isabel Mendes Ferreira
in PIANO www.mendesferreira.blogspot.com
domingo, novembro 06, 2005
essoutro lugar retém/ouro de bissectriz cicatrizada/a diluir sob manhas/de querer adoptar/uma estrela
CICATRIZES
Martim de Gouveia e Sousa
in Incisões
Jornal do Centro 4/11/05
PAUL KLEE E O PEIXE DE LUME
a infância me doesse a meio da oceânica noite
no espelho de rubra água cercada pela treva
onde nenhum rosto ousa reflectir-se brilharia
o minúsculo peixe de lume
e na obscuridade púrpura sua cabeça de ouro
incendiaria o transparente interior das anémonas
as escamas em jade fulgurando
simulam um sol em cada sonho
vibra um búzio triste uma alga ou um peixe como este
cresce a partir do centro rubro da tela
acende e apaga o distante pulsar da infância
acordo em sobressalto
deparo com a subtil inteligência do peixe
imobilizado na magia barata dum bilhete postal
sei que está numa galeria de arte em hamburgo
deixa-se consumir pelo tempo
e pelo olhar dalgum visitante furtivo sonhador
Al Berto
in A Vida Secreta das Imagens
contexto 1991
sábado, novembro 05, 2005
um poema abandonado à nascença. procuramos o seu progenitor. agradecemos a reivindicação do seu autor!
o sonho do ainda não sonhado
apenas bebido nos lençois sedosos
dos líquidos absurdos
suspiros abraços
dos braços perdidos estalados feridos amordaçados
na boca do luar na flor do deserto na poeira do fundo da terra..."
... as palavras gloriosas. rasguei a carne nos espinhos. é preciso de noite ver a luz. e o sangue ilumina. ergue a pedra do sono.
C.S.A.
in legendas&etcaetera
www.apor.blogspot.com